Em terra de Mank, Kane ainda é rei
Notas sobre Cidadão Kane, considerado por muitos um dos melhores filmes já feitos
Cinema como uma linguagem aditiva, camadas que lentamente formam um significado:
1. esteticamente com o uso da profundidade de campo que transforma o plano em um espaço simultâneo de diversas ações, dramas, significados, luzes e sombras — a famosa cena da mãe de Kane assinando o contrato com a criança brincando ao fundo.
2. tematicamente com uma história não linear resultante de diversos relatos que se completam ou contrastam, quase um pré efeito Rashomon, Charles Foster Kane é um grande quebra cabeças a ser resolvido pelo público. A interpretação final nunca é a mesma, cada um enxerga a personalidade complexa e profundamente perturbada de Kane de uma maneira (a minha favorita é a interpretação de Kane como um Édipo moderno na trágica era da mídia impressa tentando preencher o vazio da sua mãe — rosebud)
3. Ao reunir a estética com a temática temos um dos planos mais expressivos do cinema: a profundidade de campo de Orson Welles revela um Charles Foster Kane decadente e multifacetado mas eternamente refletido pelos espelhos do salão de Xanadu, assim como os relatos dos próximos de Kane continuam a gerar eternamente novas imagens e ângulos desse personagem.