Estou Pensando em Acabar com Tudo: o tédio no surreal de Charlie Kaufman

Bernardo de Quadros Bruno
2 min readApr 2, 2021

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Adaptação da Netflix de livro homônimo aposta em estratégias batidas disfarçadas de inovadoras para tentar perturbar o espectador

Lucy interpretada por Jessie Buckley

Quando o filme já começou com o título minúsculo em letras quase ilegíveis eu já suspirei um pouquinho. Assim como a estratégia visual do Kaufman pro título de “I’m Thinking of Ending Things”, a mais nova aposta da Netflix no cinema de autor é marcada por uma abordagem batida e que se acha muito mais inovadora do que realmente é.

Se o David Lynch, por exemplo, em Eraserhead, utiliza de uma cena de primeiro jantar com os sogros para explorar ideias gráficas, nojentas e genuinamente surrealistas que adentram na bizarrice dos rituais da vida americana; o Charlie Kaufman está interessado em criar uma atmosfera até perturbadora mas que nunca vai além das temáticas que ele quer comentar. O Lynch, acima de tudo acredita nas imagens que filma, independente das possíveis interpretações que possam ser retiradas de suas obras. O Kaufman, por outro lado, acredita na imagem como subproduto das mensagens “profundonas” que ele quer enfiar em sofridas 2 horas e quinze de duração.

É um suposto cinema profundo, cinema de mensagens, complexo, mas que mesmo assim nunca sai da discussão dos temas pra produzir algo interessante. Existencialismo, relações amorosas, carreira profissional, frustração artística, efemeridade da vida, discussões filosóficas e artísticas com referências pop... Até o texto da Pauline Kael criticando a representação feminina em “Uma Mulher Sob Influência” de John Cassavetes é inserido no filme(cena dolorosa por nos lembrar de um filme muito melhor do que o que estamos assistindo).

Ah e eu não entendi o que foi aquela cena final nem quero entender porque eu poderia estar assistindo Cidade dos Sonhos de David Lynch ao contrário com dublagem em russo que a cena no Club Silencio ainda seria uma das coisas mais impactantes que já assisti na vida. O cinema surrealista tem que falar por si próprio. Mais Susan Sontag, menos Pauline Kael. Contra a interpretação.

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